Capi ministra palestra para estudantes da Unifap

Capiberibe, que foi um dos protagonistas do legado histórico que a ditadura deixou, compartilhou suas experiências com os estudantes no discorrer da palestra. “Imaginem ser comunista na Macapá de 1964. Aqui era ainda um território e o governante na época era nomeado pelo presidente, então os militares mandaram para cá um Capitão: Fontinelli. Ele prendeu os comunistas que existiam na época. Os colocou na Fortaleza. Mas não houve uma grande repressão, como no Rio ou São Paulo, porque não havia indústria, como não há até hoje. Não havia um movimento social forte, como não há até hoje” – lembrou Capiberibe.

Em 1964, o movimento estudantil estava dividido. Uma boa parte dos estudantes apoiou a ditadura. Havia um conservadorismo e apenas uma pequena parcela se manteve contra. Algumas pessoas foram presas na Fortaleza de São José de Macapá, sob a acusação de serem comunistas. “A intenção era mostrar ao presidente que aqui havia risco de comunismo. Com esse pretexto criaram em 1973 a Polícia Militar” – relatou.

João Capiberibe saiu do Amapá um ano após o golpe e foi morar em Belo Horizonte (MG), onde se engajou na luta armada e retornou ao Estado em 1970. Neste mesmo ano, foi para Belém, na militância clandestina, onde permaneceu até setembro. Procurado pela polícia e pelas forças da repressão, foi preso, mas conseguiu fugir em julho de 1971. Após a fuga do exílio, morou no Chile durante nove anos. Percorreu a Bolívia e o Peru, e em 1973 voltou a levar uma vida normal.

Capi afirmou que o povo brasileiro ainda não aprendeu a conviver com a democracia por não ter uma cultura democrática. Ressaltou ainda que o agravante do Amapá é ter sido território diretamente vinculado a Brasília e com a impossibilidade do exercício da política por não eleger seus governantes até 1990. “Essa é uma condição que nos diferencia do resto do país, se o Brasil como um todo não tem tradição democrática, o Amapá então está engatinhando neste sentido” – finalizou.

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