Crise institucional no Amapá não é surpresa

Na época, Capiberibe era governador eleito para o segundo mandato e trabalhou para “equilibrar as finanças estaduais e moralizar os hábitos políticos locais. Mas, eu era impedido de fazê-lo em razão de manobras escusas perpetradas pelos demais poderes”.

“Se eu volto ao tema novamente, 12 anos depois, disse Capi, é para mostrar que todo o trabalho desempenhado por meu governo visando ao equilíbrio das contas estaduais entre janeiro de 1995 e abril de 2002, foi completamente dilapidado nos oito anos seguintes, pelos dirigentes que se instalaram no Poder Executivo” – explicou.

O editorial “A cassação adiada”, publicado pelo jornal ‘O Estado de São Paulo’, em 25 de dezembro de 2000, explica bem toda a atual situação política do Estado. Vale a pena ler novamente, para entender melhor toda a realidade das instituições do Amapá.

– Eu fiz questão de ler este editorial para mostrar a diferença entre dois momentos na história do nosso país. Àquela época, havia uma convivência pacífica com a corrupção, com o desvio de recursos públicos. Hoje, dadas as inúmeras denúncias e a atuação decisiva da Polícia Federal e do Ministério Público para coibir a corrupção, há uma aparência que a corrupção é maior do que ontem, mas não é. Hoje ela está mais exposta e submetida a uma vigilância maior, tanto da sociedade quanto das instituições públicas. Hoje, com a CPI, podemos fazer deste momento um momento histórico para o país – afirmou.

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Artigo de 2000 explica atual situação do Amapá

O esforço pelo fim da corrupção e pela instauração da ética e da transparência acompanha toda a minha vida pública, mas, principalmente quando fui governador do Amapá, no período de janeiro de 1995 a abril de 2002. Infelizmente, a batalha para equilibrar as finanças estaduais e moralizar os hábitos políticos locais sempre foi ladeada pelas manobras dos demais interessados em se apossar do dinheiro público e o nosso empenho foi desperdiçado nos oito anos seguintes, pelos que se instalaram no Poder Executivo Estadual.

“A cassação adiada”, artigo publicado em 25 de dezembro de 2000, pelo jornal ‘O Estado de São Paulo’, explica bem toda essa situação. Vale a pena ler novamente, para que entendamos melhor toda a triste realidade das instituições do Amapá:

 

“A cassação adiada”

A decisão de se autodissolver, adotada pela comissão processante da Assembleia Legislativa do Amapá, interrompendo assim o processo de cassação do mandato do governador Alberto Capiberibe, surpreendeu a todos, especialmente ao governador, que já dava como certa a sua cassação. A crise institucional do Amapá, no entanto, não terminou. Um grupo de deputados estaduais está disposto a aprovar o impeachment de Capiberibe e já anunciou que voltará a carga, saneando as falhas jurídicas que levaram à dissolução da comissão processante.

Eleito pela primeira vez em 1994 – quatro anos depois foi reeleito, com grande apoio popular -, para ser diplomado e empossado, Capiberibe precisou recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral. Recebeu de herança o compromisso de pagar um substancial aumento ao funcionalismo, retroativo a março de 199, para ser pago em 1995, além de restos a pagar, correspondentes a obras superfaturadas e fornecimentos duvidosos, no valor de R$ 160 milhões. A dotação anual destinada ao Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Tribunal de Contas estaduais foi dobrada antes de sua posse, passando de R$ 49,2 milhões, em 1994, para R$ 104 milhões em 1995.

A cada tentativa do governador de equilibrar as finanças estaduais e de moralizar os hábitos políticos locais, a oposição respondeu com um processo na Justiça. Em menos de seis anos, acumularam-se contra Capiberibe 479 processos, desde ações populares até a acusação de desvios de recursos do Fundef, que deu origem ao processo de cassação, cuja tramitação foi suspensa esta semana.

O conflito entre o governador e os Poderes Legislativo e Judiciário tornou-se crítico a partir do momento em que ele convidou, no início deste ano, a CPI do Narcotráfico, para investigar o crime organizado em seu Estado. O relatório da CPI, divulgado em 05 de dezembro, sugere o indiciamento da presidente do Tribunal de Contas do Estado, Margarete Salomão, do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fran Junior, e dos deputados Jorge Salomão e Paulo José, por suspeita de envolvimento com o narcotráfico e com a lavagem de dinheiro.

Segundo o governador João Capiberibe, “o real motivo da crise do Amapá é a discrepância de objetivos na aplicação dos recursos públicos: enquanto a meta político-administrativa do Executivo é investir na melhoria da qualidade de vida da população, membros do Legislativo querem apropriar-se dos recursos disponíveis sem justificar sua aplicação”.

Este é um diagnóstico eufemístico do que se passa no Amapá. O antigo território, na verdade, transformou-se um Estado sem lei, administrado durante longos anos por oligarquias que se habituaram a tratar a coisa pública como se fosse propriedade privada. Que a população local estava farta dos desmandos, não resta a menor dúvida: em duas eleições seguidas escolheu o governador João Capiberibe, apoiando uma plataforma de governo financeiramente austera e politicamente moralizadora.

Mas só isso não saneará o Estado. As práticas imorais estão profundamente entranhadas na vida política e institucional do Amapá. Em julho, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal suspendeu por liminar a vigência das leis estaduais que haviam servido como base para a instauração de processo de impeachment de Capiberibe. Apesar disso, a Assembleia votou o pedido de instalação da comissão processante, que foi aprovado por 14 votos contra 4, quando o mínimo exigido para que a denúncia de crime de responsabilidade tivesse sequência de 16 votos favoráveis.

A comissão foi, mesmo assim, formada com a participação de cinco deputados e de seis desembargadores. O que sustou o processo foi a constatação, pelos desembargadores, de que ao governador havia sido negado amplo direito de defesa. Isso salvou temporariamente o mandato do governador João Capiberibe.

Mas ele continua sujeito a novo processo de impeachment, porque seus adversários já declararam que não esmorecerão enquanto não o tirarem do governo. Enquanto isso, causa pasmo a inércia dos diretórios nacionais dos partidos a que estão filiados os deputados estaduais que não apenas dilapidaram o Tesouro do Amapá, como estão acusados de envolvimento com o crime organizado. Mas causa maior espécie que o governo federal, dispondo de instrumentos poderosos como a Polícia Federal e Receita Federal, assista, sem nada fazer, ao que se passa no Amapá.

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A cassação adiada

A republicação a seguir é para demonstrar que todo o trabalho desempenhado entre janeiro de 1995 e abril de 2002 foi desperdiçado nos oito anos seguintes, pelos que se instalaram no Poder Executivo. O texto mostrará que eles lutam desesperadamente para manter as benesses praticadas entre janeiro de 2003 e dezembro de 2010. Boa leitura!

A decisão de se autodissolver, adotada pela comissão processante da Assembleia Legislativa do Amapá, interrompendo assim o processo de cassação do mandato do governador Alberto Capiberibe, surpreendeu a todos, especialmente, ao governador, que já dava como certa a sua cassação A crise institucional do Amapá, no entanto, não terminou Um grupo de deputados estaduais está disposto a aprovar o impeachment de Capiberibe e já anunciou que voltará a carga, saneando as falhas jurídicas que levaram à dissolução da comissão processante.

Eleito pela primeira vez em 1994 – quatro anos depois foi reeleito, com grande apoio popular -, para ser diplomado e empossado Capiberibe precisou recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral. Recebeu de herança o compromisso de um pagar um substancial aumento concedido ao funcionalismo, retroativo a março de 1994 para ser pago em 1995, além de restos a pagar, correspondentes a obras superfaturadas e fornecimentos duvidosos, no valor de R$ 160 milhões. A dotação anual destinada ao Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Tribunal de Contas estaduais foi dobrada antes de sua posse, passando de R$ 49,2 milhões, em 1994, para R$ 104 milhões em 1995.

A cada tentativa do governador de equilibrar as finanças estaduais e de moralizar os hábitos políticos locais, a oposição respondeu com um processo na Justiça. Em menos de seis anos, acumularam-se contra Capiberibe 479 processos, desde ações populares até a acusação de desvios de recursos do Fundef que deu origem ao processo de cassação cuja tramitação foi suspensa esta semana.

O conflito entre o governador e os Poderes Legislativo e Judiciário tornou-se crítico a partir do momento em que ele convidou, no início deste ano, a CPI do Narcotráfico para investigar o crime organizado em seu Estado. O relatório da CPI, divulgado em 05 de dezembro, sugere o indiciamento da presidente do Tribunal de Contas do Estado, Margarete Salomão, do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fran Junior, e dos deputados Jorge Salomão e Paulo José por suspeita de envolvimento com o narcotráfico e com a lavagem de dinheiro.

Segundo o governador João Capiberibe, “o real motivo da crise do Amapá é a discrepância de objetivos na aplicação dos recursos públicos: enquanto a meta político-administrativa do Executivo é investir na melhoria da qualidade de vida da população, membros do Legislativo querem apropriar-se dos recursos disponíveis sem justificar sua aplicação”.

Este é um diagnóstico eufemístico do que se passa no Amapá. O antigo território, na verdade, transformou-se um Estado sem lei, administrado durante longos anos por oligarquias que se habituaram a tratar a coisa pública como se fosse propriedade privada. Que a população local estava farta dos desmandos, não resta a menor dúvida: em duas eleições seguidas escolheu o governador João Capiberibe, apoiando uma plataforma de governo financeiramente austera e politicamente moralizadora.

Mas só isso não saneará o Estado. As práticas imorais estão profundamente entranhadas na vida política e institucional do Amapá. Em julho, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal suspendeu por liminar a vigência das leis estaduais que haviam servido como base para a instauração de processo de impeachment de Capiberibe. Apesar disso, a Assembleia votou o pedido de instalação da comissão processante, que foi aprovado por 14 votos contra 4, quando o mínimo exigido para que a denúncia de crime de responsabilidade tivesse sequência era de 16 votos favoráveis.

A comissão foi, mesmo assim, formada, com a participação de cinco deputados e de seis desembargadores. O que sustou o processo foi a constatação, pelos desembargadores, de que ao governador havia sido negado amplo direito de defesa. Isso salvou temporariamente o mandato do governador João Capiberibe.

Mas ele continua sujeito a novo processo de impeachment, porque seus adversários já declararam que não esmorecerão enquanto não o tirarem do governo. Enquanto isso, causa pasmo a inércia dos diretórios nacionais dos partidos a que estão filiados os deputados estaduais que não apenas dilapidaram o Tesouro do Amapá, como estão acusados de envolvimento com o crime organizado. Mas causa maior espécie que o governo federal, dispondo de instrumentos poderosos como a Polícia Federal e Receita Federal, assista, sem nada fazer, ao que se passa no Amapá.

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